Não há dúvida: basta inspirar fundo e sentir um ar puríssimo, quase sem igual no planeta. Ele vem facilmente, impulsionado por um vento constante. Ar que foi sentido por figuras como os navegadores e piratas James Cook, Fitz Roy, Francis Drake e por figuraças como o cientista Charles Darwin. Até onde alcançam os olhos — e muito além —, nenhuma sombra de qualquer ser humano.

Em um cruzeiro de expedições, o Turismo navegou por quatro dias entre Punta Arenas (Chile) e Ushuaia (Argentina), parte da imensa porção de terra que abriga a Patagônia e uma parte dela, a Terra do Fogo. Dividida entre dois países e abrigando parques nacionais onde não é permitido morar, forma uma área vazia de gente, mas não de fauna e flora, impressionantes, com o gelo como pano de fundo. Difícil definir a sensação de ver colônias de pinguins, dezenas de espécies de outras aves e animais improváveis, como o elefante-marinho, que pode pesar até uma tonelada.

E pensar que nesse cenário, hoje vazio de vozes humanas e aparentemente inóspito, viveram milhares de indígenas, como os yaghanes, que sobreviveram até um século atrás, mas sucumbiram ao homem dito civilizado! Descer do navio e pisar pela primeira vez nessas terras — também tão cheias de histórias —, significa viver sensações distintas, que passeiam do desconcerto ao respeito.

Galochas e gorro

É óbvio que as paragens do cruzeiro exigem roupa pesada de frio, mas para os passeios a recomendação é que ela seja também impermeável. As caminhadas passam por locais com muito gelo e lama. Sobretudo as botas sofrem muito, situação que se agrava se elas acabarem molhadas por dentro. Uma maneira de evitar isso é usar as galochas oferecidas pelo navio, aquelas de borracha. Você as pega no primeiro dia e basta deixar na cabine no dia de ir embora. Escolha uma um número maior que o do seu pé para poder usar, pelo menos, três pares de meia sobrepostos. O objetivo é não sentir frio nos pés, situação muito incômoda nas caminhadas.

Os legítimos

Os yaghanes (ou yámanas) são conhecidos desde 1624, mas a arqueologia comprovou que seus ancestrais viveram na região por aproximadamente 6,5 mil anos. No século 19, eram estimados em 3,5 mil pessoas, espalhadas entre o Canal de Beagle e o Cabo Hornos. Outra tribo importante era a dos onas, descobertos em 1515 pela esquadra de Fernão de Magalhães. Por terem os pés muito grandes, ganharam o apelido de patagões (daí veio o nome Patagônia). As tentativas de evangelização feitas por ingleses e a posterior ocupação espanhola mataram todos, por doenças ou assassinatos. Fazendeiros pagavam pistoleiros para eliminar homens, crianças e mulheres.