Desde as primeiras aglomerações humanas, nós nos habituamos a deixar nossos vestígios para a posteridade, seja lá de que tipo for, nós sempre deixamos rastros. O homem em sua essência é um ser que não consegue passar despercebido – salvo alguns raros exemplos - , desde as paredes de uma caverna até o solo lunar, vamos seguindo e imprimindo as nossas digitais em tudo, ou em todos.

É verdade que nem sempre agimos da melhor maneira, porém o que mais nos difere dos outros animais é que nós temos um propósito (ou achamos que temos), que é a perpetuação da nossa espécie e o culto a nós mesmos é a nossa verdadeira arte.

Por exemplo; hábitos gastronômicos, vestimentas, gosto musical e mais uma infinidade de coisas… Estes e outros exemplos talvez façam de nós seres cultos ou coisa do tipo, mas o que talvez nós ainda não tenhamos parado para pensar é que tudo isso e muito mais talvez seja uma questão genética, é aquilo que feliz ou infelizmente, nos define, e está muito além do que nossos olhos podem ver. Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo, provando sabores, cheiros, cores, ritmos e afins; sempre acreditei que um povo sem cultura está fadado ao esquecimento.

E você caro leitor, o que acha ?

Numa das minhas andanças eu tive a honra e o prazer de conhecer um país magnífico chamado Peru, - em quéchua e aimará: Piruw – um país majestoso pincelado pelos picos ainda nevados dos andes, a floresta amazônica e o oceano pacífico. Visitar esse lugar foi como fazer uma viagem no espaço-tempo, de norte a sul e de leste a oeste, o Peru é na minha opinião a obra-prima da américa latina, lá é possível encontrar desde vestígios da presença humana de cerca de 10.500 anos antes da era comum, em sítios arqueológicos bem preservados, até uma culinária ímpar.

É impossível não ficar maravilhado com tanta diversidade e com um povo acolhedor, dono de um sorriso cativante que vai te levar a se sentir em casa, até me arrisco a dizer que você vai querer ficar. Por falar em casa, eu sugiro que você, caso queira visitar esse pedaço do céu, comece o seu passeio pela capital, Lima; com suas cores e mercados vibrantes. Esta cidade nunca dorme, é fato que nesse quesito ela não é tão cheia de opções como outras mais agitadas mundo afora, mas eu posso te garantir que em Lima o pulso pulsa mesmo.

Você pode começar o seu passeio tomando um bom café da manhã no mercado central, que apesar da arquitetura singular tem em seu interior um universo de variedades, eu sei que o querido leitor pode dizer que mercados são um tanto clichê, mas para mim um mercado é o termômetro do lugar - na próxima vez que você visitar um, olhe de forma mais ampla e veja se concorda comigo. Depois, dê um passeio por Miraflores e toda a região metropolitana, e se tiver tempo e disposição um bom mergulho nas águas do pacífico fará muito bem a você caro viajante; apenas fique atento aos surfistas, eles são muitos nessa região e embelezam mais ainda o lugar deslizando imponentes sobre as ondas que lambem a costa Peruana.

Para se conectar ainda mais, vale muito a pena seguir rumo ao norte em direção a Cuzco, o umbigo do mundo, a cidade fica no vale sagrado dos incas, e pode servir de base para depois seguir até o topo dos Andes e conhecer a inebriante Machu Picchu, mas não sem antes dar uma volta pelo umbigo e visitar locais como a Plaza de Armas, o Mercado Central San Pedro e se deliciar com um bom Ceviche, e também visitar o Templo Do Sol, além de muitos outros atrativos desta acolhedora cidade. Também vale lembrar que uma vez em Cuzco, é bem provável que você comece a perceber os efeitos da altitude, e que efeitos mas, uma vez no Peru sejamos Peruanos e com uma boa caneca de chá de coca mandamos os males das alturas para as alturas.

Agora sim, acostumados com a geografia do local é só se dirigir rumo a Águas Calientes para visitar aquela que é a joia da coroa, Huayna Picchu – a cidade perdida dos Incas – a ida até lá já é algo digno de cinema, seja de trem pelos seus trilhos mata adentro ou de carro pelas sinuosas e perigosas estradas que levam até a cidade que fica no sopé da montanha onde jaz a cidade de veraneio dos nobres Incas. Seja de forma solitária ou acompanhado a ida vale muito a pena, no trajeto é muito provável que você encontre pessoas de todos os cantos desse nosso globo azul, e perceba em cada rosto um sonho, uma história, um canto … e que canto! De Águas Calientes até Machu Picchu é possível ir a pé de ônibus ou de trem (a escolha é sua, viajante); mas preciso partilhar a minha experiência e dizer que a pé é algo transcendente, são cerca de 10kms onde eu percorri uma das diversas trilhas em meio a floresta, trilhos e transeuntes.

Chegar à cidade no alto da montanha é como fazer uma imersão em si mesmo, é um encontro seu com os seres que lá habitam (ainda estou aqui) e isso é só seu. Cada rua, cada casa, cada pedra, ainda está tudo lá, vivo e pulsante. Porém, assim como tantos outros belos pontos turísticos pelo mundo, esse também tem sofrido com a ação humana, como se não bastasse a visita indesejada dos saqueadores europeus, agora a praga da vez é o turismo de massa. Mas isso não quer dizer que não se deve visitar mais o santuário, vá… Mas não deixe nem pegue nada, não deixe rastros, não tire nada do lugar, o que é seu é seu e o que é da montanha é só da montanha.

Por fim, partilho com você as palavras daqueles índios que com as suas indumentárias fascinantes me guiaram na minha jornada até o topo: seja gentil ao pisar no solo sagrado, esse lugar vive e viverá para sempre, você é bem vindo e também é parte de tudo isso, tudo é nosso e não deles, pois não existem eles, só nós existimos, e apesar do destino ser o alvo, segure firme em minha mão e eu te mostrarei que o caminho somos nós que o fazemos, e ele é muito mais belo do que se imagina.

E como disse Veloso, um índio descerá de uma estrela colorida brilhante…

Visite o Peru!