O 25 de Abril continua após 44 anos a ser o colossal dia onde um golpe militar pôs termino a uma ditadura de 48 anos e deu lugar à Revolução dos Cravos. Com o mesmo fervor, vivido pela população naquela época, festejamos ainda hoje o 25 de Abril e desejamos, comovidos pela esperança, a perpetuação da liberdade.

«Com o 25 de Abril o povo português celebra a conquista da liberdade e da democracia e afirma a sua inquebrantável vontade de as defender».

(Vitoriano, José, 1978. Declarações na Assembleia da República do ex-dirigente do comité central do PCP).

Sobre este momento da cultura portuguesa já muito se documentou, desde diferenciados pontos de vista, deste o político ao histórico ou ao sociocultural. Perante isto, este artigo pretende, a partir de uma perceção arquitectónica, seguir o itinerário feito pelos militares do movimento das forças Armadas (MFA) e os civis, no dia em que o presidente do conselho português, Marcelo Caetano, forçosamente, apresentou a sua rendição e Portugal rumou até à Liberdade.

Os planos para um golpe de estado já vinham a desenvolver-se há muitos anos, entre eles existiram inúmeras de tentativas falhadas e diversos planos realizados pela clandestinidade para derrubar a ditadura de Oliveira Salazar. Mas o golpe que levou a revolução de abril de 1974, estava em planeamento desde 1973 por parte das MFA e viria a acontecer já com na primavera Marcelista.

O itinerário arquitetónico da revolução

Os primeiros lugares a serem controlados pelos capitães Frederico Morais e Luís Pimentel são as Emissoras de Rádio, onde se deram os primeiros sinais revolucionários. Na noite de 24 de Abril soou pela EAL (Emissoras associadas de Lisboa) a canção E depois do adeus e na madrugada do 25 soou a canção Grândola, ambos senhas combinadas para o avanço da revolução.

A operação avança pelo comando do capitão Salgueiro Maia, que reúne os militares da Escola Prática de Cavalarias de Santarém e dirige-se para o Terreiro do Passo de forma a acercar os membros do governo instalados no ministério do exército.

No Quartel da Pontinha, posto de comando das forças armadas, sob o comando do capitão Otelo Saraiva de Carvalho, as forças militares iniciam o golpe de estado. Pouco depois a MFA controla a emissora nacional, o rádio clube português, a rádio televisão portuguesa e por fim o quartel-general da região militar de Lisboa e o quartel-general da região militar do Porto.

Aquando dos primeiros sinais desta revolução nas ruas da cidade, a população junta-se à luta ao lado dos militares pelo fim da ditadura. A população, ainda que não planeado, tem uma importância elevada nesta revolução. Participa ativamente distribuindo reforços alimentares aos militares, cravos – que ficaram a ser o símbolo da liberdade - e acima de tudo contribuíram com a sua força e coragem na luta. Apesar das ordens emitidas para a população permanecer em casa, esta revolução fez-se na rua. Os espaços da cidade têm uma enorme relevância neste movimento, foram invadidos pelos militares e também pelos civis que esperavam ver de perto e contribuir para o momento em que Portugal se libertava da ditadura.

No Terreiro do paço, lugar para onde rumaram os militares vindos de Santarém por ordem do capitão Salgueiro Maia, é cercado o edifício do ministério do exército, onde de encontravam os defensores e os membros do governo.

O cerco apertou e estendeu-se à Ribeira das Naus, Rua do Arsenal, Rua do Comércio, Rua de S. Julião e à Praça do Município. A baixa encontra-se em grande agitação, o Banco de Portugal está sobe a guarda dos militares. A Sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso, não tinha sido tomada pela MFA mas, os ânimos estavam exaltados entre os populares que se manifestavam na rua. Os agentes da PIDE abriram fogo contra os civis, quatro cidadãos faleceram vitimas desse tiroteio, foram as únicas vitimas mortais da revolução.

Em simultâneo, dá-se a fuga dos membros do governo, realizada pelas traseiras do edifício do ministério do exército, onde se encontravam os militares de apoio ao governo em contra-ataque. As forças revoltosas caminharam para o Largo do Carmo, mais propriamente para cercar o Quartel da GNR, local onde se refugiou o presidente do conselho do estado novo, Marcelo Caetano.

É possível imaginar, através das fotografias de Alfredo Cunha, o pequeno Largo do Carmo, neste momento já inundado de populares e forças do exercito. O edifício, agora, Quartel do Carmo carrega um pedaço de história. No momento da revolução, este edifício que tinha sido fundado como convento, era o quartel da GNR. Alojava, para além das instalações militares a família do comandante-geral da GNR no primeiro piso. Marcelo Caetano refugia-se aqui, em duas salas, a primeira seria uma sala de reunião, com uma mesa comprida e cadeiras forradas a vermelho, e a segunda seria o gabinete do comandante-geral da GNR.

É neste ponto da cidade que se dá a rendição de Marcelo Caetano. O largo vê em primeira mão a revolução a sair triunfante, por todo o largo se grita «Vitória, vitória». Ali acabou a ditadura portuguesa que deu lugar a um novo momento na história.

Em paralelo, os populares no dia de 25 e seguintes até ao 27 de Abril, estão junto das Prisões Políticas.

Foram momentos emocionantes em que os presos políticos são libertados e recebidos pelos seus familiares e amigos.

Assim se fez a revolução dos cravos nestes lugares da cidade, que passaram a ser históricos. Nos momentos seguintes á revolução iniciou-se a construção de um país com novos valores, marcados pelo estado social, a liberdade e a democracia. Que vivam os ideais de Abril!