«I, too, wondered whether I could not sell something and succeed in life. For some time I had been no good at anything. I am forty years old... Finally, the idea of inventing something insincere crossed my mind and I set to work straightaway. At the end of three months, I showed what I had produced to Philippe Edouard Toussaint, the owner of the Galerie St Laurent. 'But it is art' he said 'and I will willingly exhibit all of it.' 'Agreed' I replied. If I sell something, he takes 30%. It seems these are the usual conditions, some galleries take 75%. What is it? In fact it is objects».

Marcel Broodthaers pertenceu à vaga do surrealismo belga, do qual se desprende, anos mais tarde, sem deixar de lado a postura inquieta e provocadora que é marca registada dos artistas do movimento criado em 1924, em Paris, por André Breton. O que tem em comum a sua obra com a obra de outro artista, seu contemporâneo, John Baldessari? Ou a obra do artista brasileiro, de uma novíssima geração, Guilherme Peters? Ou com as teorias de Hal Foster e Arthur Danto? A lista não seria infinita, mas também não é curta.

Porque, para falar daquilo que fazem Sara & André precisamos falar de arte, ou melhor, daquilo que passou a ser considerado arte a partir do gesto inicial, ou iniciático, de Marcel Duchamp e que foi levado ao extremo, anos depois, por artistas como os já citados, e tantos outros, que marcaram as décadas de 60 e de 80 produzindo objetos paradoxais: ora obras absolutamente conceptuais e invendáveis, ora objetos de consumo, próprios para um mercado da arte que se enrobusteceu na década de 80 em todo o mundo.

O que Broodthaers afirma de maneira tão direta é que, no fundo, o que os artistas fazem é produzir objetos e que se puderem ganhar dinheiro com isso, tanto melhor. Claro que a sua formulação não pode ser traduzida de maneira tão rasa, sequer a sua obra caberia numa descrição apressada. Mas, para o artista belga e, desconfio, para a dupla de artistas portugueses, o fazer artístico é um questionar constante das fronteiras entre arte/não-arte, criação/apropriação, resistência/consumo. Danto, que escreveu sobre a arte após o fim da arte usando a proposição hegeliana de que a arte evoluiria em direção à filosofia, reconhece que nem toda a arte seria convertida em filosofia, apenas artistas da dimensão de um Baldessari, Wahrol ou Kosuth, que fizeram da criação artística um gesto de reflexão sobre o próprio fazer artístico e sobre o papel da arte no universo do entretenimento, fariam esta ascensão.

Passadas 3 décadas, o teórico revê o seu texto e afirma que de facto, nem toda a arte seguiu o princípio aventado por Hegel, e que o pluralismo se tornou a tónica da contemporaneidade, como também afirmou Hal Foster, outro dos grandes pensadores da arte e cultura contemporâneas, que destaca, por exemplo, o papel dos apropriacionistas - fotógrafos que se apropriam de trabalhos de outros e que assinam como seus, assumindo assim uma postura crítica – sobre o excesso de imagens produzidas, e cínica - pois o valor de originalidade, e o preço da obra, é posto em causa no processo.

O que Sara & André fazem a pedido dos professores/artistas da licenciatura em Artes Visuais, é, de alguma maneira, filosofia – faz-nos pensar sobre a arte, sobre a criação, sobre o papel dos que ensinam, dos que aprendem e de quem executa. Sobre o nosso papel como críticos, observadores ou cocriadores. Sobre os papeis diversos que a arte assume, enfim, numa era pós-hiper-ultra contemporânea e sobre a qual não temos ainda distância suficiente para, efetivamente, produzir uma reflexão profunda.