Na era Netflix, o protagonismo feminino deixou de ser novidade no mundo do entretenimento. Ao contrário, o ativismo (seja ele feminista, antirracista, ecológico ou vegano) é o mote da vez – e já beira o clichê. Não é que não seja ótimo se sentir representada na telinha, mas também é tão chato quando a gente percebe que o discurso é vazio, estereotipado, e o pior de tudo, engendrado por uma turma que só pensa na nossa causa porque isso supostamente faz a gente consumir mais. Para o bem ou para o mal, aí ficam algumas observações, a partir de uma perspectiva feminina (obviamente), sobre alguns seriados do momento.

1. Realeza, gente como a gente (ou quase)

A tentativa de mostrar a rainha Elizabeth II como uma jovem que se esforça para conseguir o reconhecimento profissional (se é que a gente pode falar assim a respeito das carreiras monárquicas) e o equilíbrio entre os deveres de Estado e a vida familiar, tudo misturado com fatos históricos e biográficos amplamente conhecidos, fez da primeira temporada de The Crown um verdadeiro sucesso. Se a gente pensar que, além da monarca mais importante do mundo hoje, Elizabeth é da mesma geração que as nossos avôs, a abordagem e o tom que a série faz dessa personagem que é ao mesmo tempo verídica, mas que povoa nossa imaginação de uma maneira quase ficcional, caem como uma luva. Aguardando ansiosamente pela segunda temporada.

2. Loca, loca, loca

Quando me recomendaram Crazy ex-girlfriend, achei esse título um horror, preconceituoso, enfim, estive a ponto de nem tentar. No primeiro capítulo, a protagonista parecia insuportável, e fiquei até meio ressabiada com a pessoa que me indicou (por que se lembraria de mim?)... mas aí, conforme os episódios progrediram, o genial senso de humor de Rachel Bloom (coautora que interpreta Rebecca, a ‘ex-namorada louca’) tomou o comando, eu passei a entendê-la melhor e as suas relações desastrosas, e então a paz foi restaurada. A maravilhosa The sexy getting ready song ganhou meu coração, e depois disso assisti todos os episódios disponíveis. Uma comédia musical feminista, diferente de tudo.

3. A bloguerinha

Talvez a minha expectativa para uma série chamada Girlboss fosse muito alta, mas achei que a Sophia Amoruso talvez tenha se auto gongado demais. A Sophia protagonista (alter-ego da autora) nem é tão legal assim. Apesar de super determinada e destemida, verdade seja dita, ela é muito egoísta e quase sempre injusta – o que não seria um motivo pra desgostar da série, se isso não fosse retratado como valores desejáveis e fundamentais na personalidade de qualquer millenial empreendedora. Apesar da falta de empatia da personagem, a série é muito bem pensada e realizada, e um prato cheio pra quem gosta de moda.

4. Dracarys

Sim, Game of Thrones entrou nessa lista porque parece até que essa temporada foi escrita pra empoderar a mulherada. É verdade que as personagens femininas sempre tiveram força no desenrolar do enredo da série, mas também eram muito exploradas pelo viés da sensualidade e foram altamente sexualizadas. Agora, isso acabou – e ainda bem! O primeiro episódio começa com Arya (seria possível escrever um artigo inteiro falando da evolução incrível que personagens como ela, Sansa, Olenna, a maravilhosa e cruel Cersei, e Brienne tiveram) terminando com a maior competidora pelo trono, Daenerys. E, pasmem, nenhum episódio até agora teve nudez ou cenas de sexo – só ação da boa e vários conflitos psicológicos. Isso é o que eu chamo de ‘plot twist’. Estão de parabéns.

5. Sem limite de idade

Grace & Frankie é uma série adorável sobre duas mulheres fortes e incríveis que, apesar das inconciliáveis diferenças, cultivam, episódio a episódio, uma bonita amizade. Elas compartilham um lar, a idade na casa dos setenta anos, e os divórcios (seus ex-maridos as deixaram para ficar juntos e assumir um relacionamento homossexual). Sim, isso mesmo, tudo isso na época em que se espera que nada mais interessante aconteça na vida. Quebrando clichês da mulher pós-menopausa, a série conta com um elencão e um enredo pra lá de divertido. Necessária.

6. Síndrome de Estocolmo revisitada

A primeira temporada de The Unbreakable Kimmy Schimdt foi uma grata surpresa. Acho que só Tina Fey poderia fazer uma comédia cuja protagonista foi vítima de sequestro e ficou presa numa seita subterrânea por 15 anos. A premissa da série é violência de gênero e mesmo assim, ela consegue escrever um sitcom ótimo, com humor de qualidade (apesar do enredo enfraquecer muito a partir da segunda temporada, onde a Kimmy começa a ficar muito bobinha). E além disso, tem o Titus Andromendon, que merecia uma série só pra ele.

7. Acima da Lei

Duas palavras que definem porque você definitivamente deve assistir How to get away with murder: Viola. Davis. A diva suprema e absoluta interpreta uma advogada que é capaz até de fazer chover canivete se precisar. Depois de salvar o seu cliente com a ajuda dos seus estabanados estagiários, ela ainda ensina tudo tim tim por tim tim na matéria que leciona na faculdade. Como diria Karol Conka: É o Poder. O enredo é de tirar o fôlego, e antes da primeira temporada já teve tanta reviravolta que tem até um resumo antes do episódio começar.