A primeira vez que ouvi falar na Costa Vicentina, foi há 22 anos através do meu irmão e amigos que fizeram uma surf trip por lá.

A Costa Vicentina é compreendida entre Sul de Santiago do Cacém até Sagres.

Na altura o acesso era ainda mais limitado, havia estradas por descobrir, caminhos de terra que dificultavam muito o acesso. Aquelas praias eram dos peixes e dos pescadores, que eram donos e senhores das terras e ficaram por muitos anos como um segredo bem guardado.

Hoje em dia continuam a ser as praias mais procuradas pelos surfistas, considerado um oásis de ondas perfeitas, com tubos incríveis. Mas hoje os acessos estão cada vez mais facilitados e muitas vezes alcatroados. Ainda há praias que permanecem com difícil acesso.

As praias são amplas, o que evitam as multidões e o atropelamento de chapéus de sol, ainda há uma espécie de liberdade selvagem naquele local, onde cada um faz o que quer no seu espaço, mas sem incomodar quem está ao seu lado, ou a kms de distância. Aqui não existe o Algarve over-populated, nem pubs nem campos de golf nem horas de ponta. Isso fica na outra esquina do Algarve. É o Algarve tranquilo com pausa no relógio.

A viagem começa na Pedralva, um dos lugares que mais gosto de ficar na Costa Vicentina, uma pequena aldeia reconstruída pela mão de três amigos e sócios que deram o seu corpo para reavivar a alma outrora vivida na Aldeia. É lá que fico a dormir, com pouco acesso à Internet, parece que as noites até sabem melhor.

Dali, partimos para a aventura. Este ano a praia de eleição foi a Cordoama. O ano passado a Praia de Vale Figueiras em Aljezur. Vamos em Família ou em grupo na viagem.

Todas as praias merecem ser visitadas. O encanto destas praias é exactamente a simplicidade, as aldeias e vilas próximas e os bares rústicos dá a sensação de estarmos um bocadinho escondidos no mundo. Há caminhos incríveis que permanecem no segredo dos deuses ou daqueles que se aventuram num jipe e rezam não ficar com um pneu furado na ravina da praia.

Toda esta zona é protegida pois fica no Parque Natural da Costa Vicentina, o que faz com que o desenvolvimento desta cidade seja lento e que preserve o seu caracter selvagem. Mais de 340 Kms para explorar em toda a sua plenitude. É uma das mais belas e mais bem preservadas linhas costeiras do sul da Europa.

Todo o seu caminho litoral é feito por falésias e penhascos que acabam sobre o oceano atlântico, o que torna esta vista deslumbrante.

Se pensa que não há nada para fazer nestas praias está muito enganado, são praias perfeitas, pois os aventureiros fazem surf, as mulheres e Mães caminhadas e as crianças brincam junto às mil e uma lagoas que se formam junto das rochas, as crianças bem preparadas vão com um balde e camaroeiro e a única vez que “incomodam” os Pais é para mostrar os caranguejos que apanharam.

O Itinerário de praias é vasto, e decidi abreviar com as minhas praias preferidas:

Bordeira: fica na Carrapateira tem o areal mais comprido da Costa Vicentina, mas também é das mais procuradas para o Surf e Kitesurf, pois é uma praia muito exposta e com bastante vento. Tem uma ribeira que desagua no mar, o que faz com que tenha dos cenários mais bonitos desta Costa, proporciona pôr-do-sol incrível. É pouco frequentada o que convida a uma calma absoluta.

Arrifana: foi a praia mais visitada durante décadas, pela sua beleza natural e rochedos que parecem emergir das àguas, uma baía deslumbrante.

Cordoama: a minha preferida, o extenso areal que liga à Praia do Castelejo. Um lugar mágico que proporciona pôr-do-sol inesquecíveis. Permite longas caminhadas tanto para Norte como para Sul. Com vistas diferentes, mas com uma beleza singular em comum.

Praia do Amado; um extenso areal com boas infraestruturas, bares e acesso facilitado até à praia. Areal. Considerada uma das melhores praias portuguesas para o surf, é procurada por praticantes de toda o Mundo, sendo muitas vezes palco de provas de competições internacionais. Mas nem só os mais experientes aqui vêm, pois também existem várias escolas de surf.

Praia da Murraçao: um pequeno segredo que nem está indicado, fica entre as Praias do Mirouço e do Amado 5 km de terra batida perto dos moinhos eólicos, uma praia rochosa, mas que tem um areal largo, rodeada por uma paisagem natural de beleza indescritível. A Praia permanece em estado natural e não tem bons acessos para chegar até ela. É destino de nudistas. Não é vigiada nem tem infraestruturas de apoio.

Praia da Ponta Ruiva: onde se forma a famosa onda para surfistas. Os tons encarniçados desta rocha contrastam com o negro das escarpas xistosas. O acesso é difícil recomendado apenas a jipes. A praia é muito tranquila, sem marcas humanas.

Praia do Beliche: é a melhor praia de surf em Sagres e foi daqui que o Infante D. Henrique lançou suas viagens que descobriram a costa ocidental de África. A praia é cercada por altas falésias que dão lugar a um areal dourado incrível. O acesso é feito por uma longa escadaria a pique até à praia, o que afasta pouco aventureiros. Uma praia abrigada e mais calma que as mais próximas da Cidade.

Vilas que merecem visita: Bordeira, Carrapateira, Vila do Bispo.

Estas praias são um contágio de boa energia e esperança, numa linguagem que é tão humana quanto universal.

Texto de Catarina Perestrelo