É incontestável a participação das mulheres no avanço da ciência e na transformação da nossa sociedade, desde o tempo em que tais iniciativas não eram permitidas. Existem inúmeros fatos históricos que nos demonstram isso, citarei algum deles para uma melhor percepção do cenário, no entanto, apesar de todos os avanços, a sociedade como um todo não acompanhou a conquista de uma série de direitos femininos, seja dentro ou fora do âmbito profissional.

Um exemplo clássico que gosto de mencionar é a história da mais que cientista Marie Curie, uma força potente totalmente a frente do seu tempo. Primeira mulher a receber um prêmio Nobel, em Física (1903) pelo isolamento dos elementos químicos, o polônio e o rádio, Marie Curie foi pioneira em várias frentes: no mesmo ano em que ganhou o Nobel, foi a primeira mulher da França a defender uma tese de doutorado. Em 1911, ganhou seu segundo Prêmio Nobel, em Química, em pesquisas sobre as propriedades e potencial uso terapêutico do rádio. Além de todos estes feitos transcendentes, Marie Curie em 1918, colaborou com sua filha mais velha Irene, que em parceria com seu marido descobriram a radioatividade artificial, e ganharam o Prêmio Nobel de Química.

Porém, apesar de toda a sua genialidade, Marie Curie foi exposta e julgada por sua vida pessoal. Após a morte do seu marido, ela foi acusada publicamente de ter um relacionamento afetivo com um homem casado, Paul Langevin, ex-aluno de seu marido. E isto, quase afetou o recebimento do seu segundo Prêmio Nobel na Suécia. Quem saiu em sua defesa foi nada menos que o físico Albert Einstein.

Outra cientista notável, Rosalind Elsie Franklin, uma biofísica britânica, trouxe à comunidade acadêmica a técnica revolucionária de difração de raios-X. Em 1949, suas pesquisas concluíram que o DNA tinha uma estrutura helicoidal, uma revelação que se tornaria fundamental. Seu trabalho pavimentou o caminho para a determinação estrutural da molécula do DNA, uma conquista que, eventualmente, rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a James Watson e Francis Crick em 1962. No entanto, esses cientistas, embora tenham se baseado fortemente no trabalho de Rosalind, curiosamente deixaram de mencioná-la em suas publicações.

No decorrer do tempo, em 1968, Watson, autor do livro 'The Double Helix', admitiu ter utilizado os dados e descobertas da pesquisadora sem sua permissão ou conhecimento, lançando uma sombra sobre o mérito de seu próprio Nobel. Essa admissão posterior expôs a falta de reconhecimento devido a Rosalind Franklin, uma cientista cujas contribuições substanciais foram fundamentalmente essenciais para a compreensão da estrutura do DNA, e cujo papel foi, por muito tempo, subestimado.

E por última, porém, não menos importante, fulgura Cecilia Payne, a primeira pesquisadora a provar através de seu trabalho, que o sol é composto primariamente de hidrogênio, em 1925. Ela foi a primeira pessoa a ganhar um doutorado em astronomia no Colégio Radcliffe, com o que Otto Strauve chamou de “A tese de doutorado mais brilhante já escrita em astronomia”. Tornou-se a primeira mulher a ser promovida como docente em Harvard. Mas, para isso ela precisou se mudar para os Estados Unidos, pois, Cambridge no Reino Unido, se recusou a lhe dar um diploma, pelo fato de ser mulher.

Aqui citei apenas 3 exemplos de mulheres na academia, no entanto, não poderia deixar de fora o movimento sufragista que ocorreu entre o fim do século XIX e o início do século XX, onde mulheres de vários países democráticos do mundo, dentre eles, Inglaterra, França e Estados Unidos, lutaram pelo direito ao sufrágio (voto), também sendo considerado a primeira onda do feminismo, marcando a oposição contra o sexismo e a favor da igualdade de gênero. E, claro que esta luta por mudanças, foi marcada por confrontos, perseguições, prisões e mortes.

São tantas as mulheres que desempenham um papel crucial em suas famílias, comunidades e sociedade que se torna impossível mensurar a sua participação efetiva em todos os segmentos. Mas, o mais impactante é ainda perceber o quão desafiador é ser mulher e profissional nos dias de hoje. As desigualdades de gênero persistem, refletindo-se em disparidades salariais, escassez de representatividade em cargos de liderança e até mesmo na sub-representação em determinados campos científicos e políticos.

À medida que exploramos as realizações passadas e presentes, também olhamos para o futuro, vislumbrando um mundo em que todas as mentes brilhantes, independentemente do gênero, possam contribuir plenamente para o avanço da ciência e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Afinal, a participação das mulheres na ciência é um capítulo fundamental na narrativa do progresso humano, uma narrativa que devemos contar com respeito, admiração e compromisso renovado.

Obrigada Malala, Angela Davis e tantas outras ativistas que enobrecem o papel do ser humano e gostaria de pedir minhas sinceras desculpas a Marielle e a jovem de Belo Horizonte que foi deixada desacordada na rua por um motorista de aplicativo.

Que mundo é este?