Uma das maiores discussões que tem rodeado o LinkedIn ou centros universitários é que a tecnologia está transformando o mundo em que vivemos de maneiras inimagináveis. A tecnologia está inovando em softwares de criação, ambientes virtuais de aprendizagem e inteligência artificial. Escutamos na televisão e em podcasts que as novas tecnologias ampliam as possibilidades criativas e de acesso ao conhecimento, porém existe uma pergunta que está em andamento: a tecnologia está matando ou está ajudando a nossa utilidade em agir em determinadas áreas da nossa vida?

Pensemos o seguinte: a tecnologia tornou possível a produção de arte digital, mas será que ela é autêntica como a arte tradicional? De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, intitulada de The Future of Jobs and Jobs Training, a maioria dos norte-americanos acredita que a arte digital não é tão legítima quanto a arte tradicional. Um belo exemplo que fale sobre essa autenticidade no uso das tecnologias no universo da arte é o da artista britânica Anna Ridler, que criou uma série de obras de arte geradas por inteligência artificial que se baseiam em conjuntos de dados complexos, como o mercado de flores em Amsterdam. Embora essas obras sejam produzidas com tecnologia, Ridler argumenta que elas são autênticas, uma vez que ela está interessada em explorar as maneiras pelas quais os dados podem ser interpretados de maneiras criativas. No entanto, alguns críticos questionam a originalidade dessas obras, argumentando que elas dependem em grande parte dos dados subjacentes e, portanto, não são verdadeiramente criativas.

Esse sentimento de negação que surge em nós, quando falamos sobre essa arte que é feita por inteligência artificial ou feita digitalmente, pode ser devido ao fato de que a produção de arte digital pode ser mais fácil e mais rápida, sem a necessidade de habilidades manuais ou técnicas tradicionais que levam anos para serem aperfeiçoadas. Mas é importante lembrar que a arte digital pode ser facilmente reproduzida e distribuída, o que pode levar a uma saturação do mercado e, consequentemente, a uma desvalorização do trabalho do artista. Vivemos falando que o trabalho digital desvaloriza o artista tradicional, mas será que pensamos nesse outro lado da moeda? Outro questionamento importante de ser levantado é: o público que os artistas digitais busca atingir é o mesmo público dos artistas tradicionais? Tudo isso pode ser algo a se colocar na mesa ao discutir esse assunto.

Com a pandemia de COVID-19 e o consequente aumento da necessidade de acesso remoto, a demanda por acesso à informação aumentou ainda mais. Segundo a UNESCO, o acesso à informação, à recreação e ao ensino a distância é uma tendência mundial em ascensão. Indo nessa mesma onda de crescimento, nos últimos anos, as exposições artísticas online cresceram significativamente.

O Google Arts & Culture, plataforma de arte e cultura online, cresceu rapidamente desde 2016, expandindo seu acervo de arte, adicionando parcerias com museus e instituições em todo o mundo. Em 2020, a plataforma também lançou uma nova função chamada Experiências Imersivas, que permite que os usuários façam visitas virtuais em 3D de galerias e museus. Plataformas de vendas de arte online, como a Artsy, também cresceram nos últimos cinco anos.

Esses dois exemplos citados são comuns, mas ótimos para levantar o fato de que estão tornando a arte mais acessível, ao criar oportunidades para artistas e expandir o público consumidor de arte. É importante lembrar que durante o século XIX, o acesso à arte em museus e galerias era muitas vezes limitado a um público elitista e de classe alta. A maioria das pessoas comuns não tinha acesso a esses espaços, e as visitas ao museu eram muitas vezes vistas como um luxo exclusivo para a elite educada e embora a presença física nas galerias ainda seja valorizada e continue sendo uma experiência única, o acesso à arte online democratizou o consumo de arte e ampliou o público consumidor.

É importante destacar que as visitas presenciais aos museus também têm aumentado, uma vez que a popularização do acesso online aumentou a visibilidade dessas instituições e incentiva as pessoas a irem pessoalmente conhecer esses espaços.

Voltando ao tópico do uso de inteligência artificial e novas tecnologias para a produção artística, lembremos do Manifesto Técnico da Escultura Futurista, ou Declaration of Futurism, escrito por Humberto Boccioni, que diz:

Nós declaramos que o esplendor do mundo foi enriquecido com uma nova forma de beleza, a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado com grandes canos como serpentes com um hálito explosivo… um carro de corrida que parece correr sobre pó explosivo é mais bonito do que a Vitória de Somothrace.

Após refletirmos sobre esse trecho do manifesto podemos perceber o quão atual ele é. Hoje, a velocidade é o acesso à informação, ou o que chamamos de internet. Um carro de corrida adornado com grandes canos como serpentes com um hálito explosivo hoje pode representar a diversidade criativa que nosso mundo oferece, ou seja, as possibilidades de construção, de criação que existem, sejam elas por meios tradicionais ou extremamente tecnológicos.

Então voltemos a nossa reflexão inicial: A tecnologia está matando a arte? Será mesmo que a inteligência artificial roubará nossos empregos e destruirá os artistas tradicionais?

Assim como nossos artistas futuristas, espero que ao fazer uso de inteligência artificial ou um pincel e tinta a óleo, os elementos essenciais da nossa poética sejam a coragem, a audácia e revolta.