A hospitalização da criança é uma questão bastante difícil, onde até mesmo profissionais da saúde se enxergam em constante sofrimento.

Em muitas situações, essa hospitalização acaba sendo bastante devassadora, até pelo fato de que essa criança se encontra longe de seu ambiente (seguro) e distante também de sua rotina e socialização com os pares. Visto que uma das formas mais delicadas e genuínas da criança é o brincar, até porque em alguns casos seu desenvolvimento não está de ordem completa e satisfatória, a criança por meio de atividades lúdicas pode então, de alguma forma, expressar seu sofrimento e seus conflitos. O trabalho com crianças internadas tem mostrado que, mesmo estando doente, a criança sente a necessidade de brincar (Sikilero, Morselli & Duarte, 1997). Através do brincar se percebe uma nova construção e desconstrução do que aflige naquele momento e impossibilita de ser falado por palavras.

A partir de uma pesquisa com crianças internadas, com idades entre 5 a 11 anos, Oliveira (1997) salientou a presença insistente do brincar em todo o material analisado. Reafirmo que é através do brincar que a criança pode, de alguma forma, elaborar o momento traumático em que está passando. O brincar muda de aspecto e sentido diante de um sofrimento, neste caso físico também. A criança pode com isso relatar sobre seus medos, suas angústias e a forma que está lidando com a situação.

Observa-se, por exemplo, que especialmente crianças pequenas sentem a doença ou a hospitalização como um castigo para algo de errado que tenham feito, custando a associar a hospitalização à cura de sua doença (Oliveira, 1993). Importante frisar que caso a equipe de saúde não esteja atentar a essa questão e demanda, a criança pode com isso reforçar essa ideia de castigo e punição.

Pesquisas apontam em que a participação das crianças no brincar no momento de sua hospitalização pode ajudar, de fato, em sua recuperação.

O conto de histórias é uma das formas do brincar em que a criança pode contar a sua narrativa sobre o que lhe acomete.

A criança repete em seus jogos tudo que lhe causa mal estar e a forma de interagir com ela através dos contos de histórias podem fazer com que apareça inúmeras narrativas e realidades de seu próprio contexto. A maneira mais eficaz de interpretar aquilo que foi expressado pela criança é na transferência, diante disto existe a importância e atenção dos profissionais da saúde para além do que pode se vê, além da dor física, além do corpo invadido, entre outros.

Winnicott (1971/1975) afirma que se deve permitir ao paciente criança entre os brinquedos no chão, que comunique uma sucessão de ideias, pensamentos, impulsos e sensações sem conexão aparente, que é a forma dele manifestar seu material simbólico e a partir daí haver essa conexão entre profissional e a criança. A utilização de técnicas lúdicas durante a hospitalização de crianças corresponde uma das estratégia efetivas para diminuição do estresse, medo e sofrimento diante de seu quadro atual. Quando a criança encontra no ambiente hospitalar essa forma de intervenção pode lidar de forma mais funcional com suas questões psíquicas.

A intervenção psicológica pode ser uma das formas de lidar com o alto grau de ansiedade envolvendo a criança, sua forma de lidar com o mundo e também com a relação pais-filhos.

A mencionada forma de incentivo a expressão da criança pode possibilitar novas formas de elaborações diante da hospitalização. O brincar pode ser uma das formas da criança colocar através do lúdico sua compreensão de sua condição atual, seus medos e seus anseios diante da vida.

Esta proposta pode servir para que a criança lide com o inesperado, sua ausência de rotina e também como forma de entendimento em estar em um ambiente totalmente novo, desconhecido e apavorante.

É de imensa importância discutir a atuação do psicólogo diante dessa forma de recurso terapêutico, como também de sua importância a explicação diante desta forma da criança lidar com o cenário adoecido.

Encontramos no ambiente hospitalar sujeitos com enorme grau de temor diante da vida e isso não exclui as crianças, o ambiente hospitalar nos convoca e nos colocar a pensar sobre a finitude da vida. Portanto, buscar formas de atuação do psicólogo, éticas, ajuda ao paciente lidar com essa angústia.