Sendo eu um professor e tendo a educação física como formação primária, obviamente não podia deixar de escrever um artigo inteiro sobre o assunto.

Falando em termos de Brasil, a Educação Física escolar dos dias de hoje não deve ser vista como uma aula onde os alunos aprendem esportes e desenvolvem capacidades físicas como é em diversos países desenvolvidos, e sim como um momento de recreação. Um período dentro da grade semanal de disciplinas onde os estudantes podem desopilar e dar um tempo dos estudos. E mesmo que nenhum colega de profissão concorde comigo, eu defendo meu ponto de vista logo abaixo.

A Educação Física escolar dos dias de hoje é um tema polêmico e ao mesmo tempo repleto de hipocrisia. É polêmico porque a maioria dos outros agentes da educação criticam os professores de educação física que apenas largam uma bola e ficam observando os alunos, fazendo cobranças do lado mais fraco e recusando-se a enxergar o mundo que está á volta. E é repleto de hipocrisia porque como em todas as outras áreas sociais da União, os órgãos competentes e os responsáveis legais apenas encenam para o povo todo um teatro de fingimento de estarem realmente interessados no que deveriam estar regulamentando e cobrando.

É complicado o professor hoje cobrar respeito em suas aulas quando a educação física é uma matéria que não causa reprovação. É complicado cobrar respeito quando as aulas são interrompidas para que os alunos façam provas ou estudem para outras disciplinas. É complicado quando em algumas escolas temos apenas um período por semana para trabalhar com as turmas. E principalmente, é complicado trabalhar quando não temos estrutura física e tampouco material adequado para ministrar aulas.

Em Paranaguá, por exemplo, um município com mais de 300.000 habitantes localizado no litoral do Paraná e sede do 4º porto náutico mais importante do país, nenhuma das suas 15 escolas da rede municipal de ensino fundamental possui um ginásio. Permitam-me repetir. Nenhuma escola municipal possui sequer um ginásio. Na maioria existe apenas uma quadra de concreto, sendo que são poucas ás que contém uma cobertura para os dias de chuva. Algo que hoje em dia no Brasil é extremamente “normal”, porque não é somente em Paranaguá que as escolas não possuem ginásios. Porém, uma cidade portuária com um orçamento anual igual ao de Paranaguá, o mínimo que poderíamos esperar é que as escolas tivessem uma estrutura adequada.

É complicado ministrar aulas para 30 alunos com apenas uma quadra de concreto e algumas poucas bolas. E o que escutamos dos grandes “intelectuais de bodega” é que temos que adaptar. Sendo nós o professor, logo somos responsáveis por adaptar as aulas, criar e literalmente se virar para fazer uma limonada com o limão que temos. Entretanto, estamos cansados disso! Estamos cansados de adaptar, de se virar, de criar, e de fazer limonada. Como diria o grupo de rock brasileiro Titãs, o que queremos é comida, bebida e água, além é claro, de um local adequado para podermos definitivamente fazer o nosso trabalho de educador físico ao invés de apenas fingir, como faz a maioria dos professores da área atualmente.

Quando eu converso com diversos professores de educação física de escolas públicas e particulares, todos são sempre unânimes. Diariamente todos chegam em suas casas roucos, sugados e desgastados, porque o apito já não é mais suficiente no séc. XXI. Muitas vezes precisam esgaçar a voz porque não estamos em uma sala de aula, nosso espaço de trabalho é amplo e precisamos controlar os alunos mal educados. E sendo assim durante nosso debate eu sempre os questiono: daqui a vinte anos quando perdermos nossas cordas vocais, o Estado ou a União irá arcar com os custos do nosso tratamento? E vale a pena perdemos a voz por um salário médio de R$1.800,00 por mês?

Nós professores de Educação Física não precisamos de um salário melhor, entretanto, precisamos de melhores condições de trabalho. Precisamos de uma estrutura adequada nas escolas, como academia, salas de dança e quadras poliesportivas. Precisamos receber adicional de insalubridade, porque nosso desgaste físico e vocal se encaixa na categoria legalmente, entretanto, ninguém ainda nos cedeu este direito. Precisamos de punições adequadas para os alunos que desrespeitam nossas aulas. E principalmente, precisamos de um conselho que realmente defenda nossa categoria ao invés de só fazer política.

É interessante observar que na América do Norte, todas as escolas públicas sem exceção possuem ginásio com piso de madeira, arquibancada, academia, salas de luta e danças, diversas tabelas de basquete, bolas, cordas e colchões disponíveis. E principalmente, uma cultura esportiva onde a educação física é uma disciplina que causa reprovação, além do incentivo contínuo para que o aluno desenvolva algum esporte como atividade extracurricular através dos jogos escolares que duram o ano inteiro.