Mendes Wood DM São Paulo tem o prazer de apresentar a primeira exposição de Anna Boghiguian na galeria. Boghiguian vive uma vida nômade, do Egito ao Canadá e da Índia à França, coletando a história da violência através da experiencia pessoal dela sobre movimento, fronteiras e pertencimento. A exposição é uma conversa entre livros da Clarice Liscepctor e Virginia Woolf, duas mulheres que exploraram nos limites semânticos da literatura a arte pictórica, a imagem do que não se poderia imaginar.

Os trabalhos recentes da artista reúnem todas as discrepantes possibilidades presentes nos contos de Clarice, como as baratas que saem do armário em A Paixão Segundo G.H. que repugnadas pelos humanos, tem mais a nos ensinar sobre as limitações do nosso olhar do que qualquer outro ser existente no mundo. As transgressões contidas no olhar da autora-personagem questionam estruturas muito além do campo social, elas são exercícios analíticos da existência.

Anna Boghiguian pinta e recorta imagens do universo Clariciano e as remonta sem a linerialidade temporal do olhar humano, assim como Lispector, provocando quem vê, não gratuitamente, mas em um exercício de auto-escrita nesse lugar do silêncio, deixando vários campos vazios na narrativa pictórica como os buracos recortados no papel coberto de pigmento e cera de abelha – usada há milhares de anos atrás para a produção de velas – cobrindo a sujeira do seu desenho com matéria nobre.

Essa nobreza também se encontra nos trabalhos em chapas de metal em referencia ao famoso To the Lighthouse de Virginia Woolf, que nas inseguranças da personagem Lily Briscoe, pintora que está trabalhando na ilustração de um livro, cria a força e o mistério da luz de um farol, mas deixa vários espaços não ditos na escrita.

Boghiguian não é linear e apresenta um trabalho que é tão sensível, agressivo e imaterial em alguns momentos quanto as escritoras visitadas nessas imagens e a exposição é justamente essas conversas não limítrofes entre a arte e a literatura.

Anna Boghiguian (1946, Cairo) vive e trabalha no Cairo, Egito. Seus trabalhos foram incluídos em importantes mostras institucionais como ARTES MUNDI 8, Cardiff (2018); Museum of Modern Art, Nova York (2017); La Triennial di Milano, Milão (2017); Van Abbemuseum, Eindhoven (2015); Armenian Pavillion na Biennale di Venezia (2015); Istanbul Biennial (2015) e (2009), New Museum, Nova York (2014); Bienal de São Paulo (2014); Documenta 13, Kassel (2012) e na Thessaloniki Biennale of Contemporary Art, Thessaloniki (2007).

Boghiguian teve exposições individuais no Tate St. Ives, Cornwall (2019); New Museum, Nova York (2018); uma retrospective no Bait Al Serkal, Sharjah (2018); Castello di Rivoli (2017); Carré d’Art - Museum of Contemporary Art Nîmes, França (2016); e DAAD gallery, Berlim (2013). Seus trabalhos integram coleções institucionais como MoMA, Nova York; Guggenheim, Abu Dhabi; The Art Institute of Chicago; Castello di Rivoli Museo d’Arte Contemporanea, Turim, sobre outros.