O Mineirão – e toda uma nação – em prantos diante de um placar inimaginável ainda é latente. A fase das eliminatórias com um sexto lugar beirando o caos também. Mas parece que aquela chama de esperança do HEXA se reacendeu, mesmo que um pouco fraca e titubeante, ofuscada por tantas outras chamas ateadas no cenário político e econômico do país.

As ruas ainda não estão pintadas e os álbuns de figurinha ainda sem completar. O comércio, abarrotado de tranqueiras verdes e amarelas, ainda anseia que os clientes se empolguem para decorar suas casas e ruas para aquele momento de suspensão do tempo e do espaço que acontece de quatro em quatro anos.

Quatro anos atrás eu já tinha comprado todos os itens de decoração: bandeiras, toalha de mesa com a bandeira, estoque de salgadinhos e bebidinhas. Já sabia de cor os dias e horários dos jogos e já tinha convidado os amigos que fariam parte da minha casa que passou a se chamar “Central da Copa!”. Quatro anos atrás a Copa do Mundo era em casa e estávamos em casa. Tínhamos Neymar e algumas outras estrelas. Tínhamos estádios novinhos em folha e uma tremenda esperança de vencer. Parecia que tudo caminhava para um final feliz, mas esse final você já sabe e cá estamos nós quatro anos depois.

Perdemos a Copa. Perdemos a Presidente. Perdemos – se você não é um “paneleiro” – aquele orgulho de vestir a camisa verde e amarela e cantar o hino. Perdemos o poder econômico e o crescimento. Perdemos empregos. Perdemos o prestígio de um “Gigante por Natureza” e de “um país do futuro”. Nesses quatro anos, foi como se o 7x1 do futebol contaminasse as nossas vidas e vivêssemos um pesadelo desses à cada grande escândalo de corrupção e à cada manobra do governo contra o povo.

Entretanto, não perdemos a Seleção, pelo que os números e estatísticas indicam. Pode haver alguma desconfiança de um ou outro jogador, mas Tite suturou as feridas abertas e colocou nos lugares devidos as melhores estrelas do nosso futebol – ainda que elas brilhem tão longe do planalto central. Sua liderança e confiança geram em nós aquele sentimento de comandante que sabe o que faz, o que adoraríamos ver no comando da nação de terno e não só na nação de chuteiras. Ah, Adenor! Que pena que você e sua equipe técnica não vão concorrer às eleições...

Ano de Copa do Mundo e ano de Eleições. Ano sem pintura nas ruas e nem camiseta verde e amarela. Ano sem um cenário político e um futuro claros. Mas ainda sim um ano de Copa do Mundo com uma Seleção que chega para competir de igual para igual e para se provar. No futebol, o tempo está abrindo e vemos alguns raios de sol. Tomara que em breve a política também saia das trevas de tantas derrotas e que possamos voltar a sonhar! Boa sorte, Seleção! Boa sorte, Brasil!