Água, água e mais água... E muito mais água. Caindo por todos os lados, com várias intensidades; passando de um estado a outro quando, ao cair, transforma-se em vapor e de um país a outro, ao se dividir entre Brasil e Argentina. Água em movimento, água plácida na origem e vigorosa ao «despencar» de várias alturas. Um espetáculo natural de grandeza e proporções cinematográficas. Um ponto no mapa do Hemisfério Sul; um item na lista das Novas Sete Maravilhas da Natureza situado num trecho da Foz do rio Iguaçu, na fronteira entre as duas nações.

Na língua guarani, originária dos antigos indígenas que habitavam a região, Iguaçu significa «água grande». A simplicidade desse batismo traduz a essência do que se vê por lá, mas o primeiro «homem branco» a avistar as cataratas, Alvar Nuñes Cabeza de Vaca, nos idos de 1542, seguiu a tradição católica e chamou as quedas de «Cachoeiras de Santa Maria». Só que o tempo passou e o nome original prevaleceu, porque de fato as águas são «grandes» ou, melhor dizendo, grandiosas.

Pelo lado brasileiro, as cataratas estão localizadas na cidade de Foz do Iguaçu, no Oeste do estado do Paraná, região Sul do país, área fronteiriça do Paraguai, Brasil e Argentina. No entanto, são os dois últimos países que compartilham a região das quedas, que chegam a uma extensão de 2.700 metros, sendo 1.900 deles na Argentina.

Dizem os brasileiros serem esses pouco mais de trinta por cento que lhes couberam os mais belos trechos das cataratas, de onde se tem delas a melhor visão, inclusive da Garganta do Diabo, a maior das quedas do complexo natural, localizada no lado argentino, com 85 metros de altura. Mas, para saber, só indo lá para ver.... Brincadeiras brasileiras à parte, dentre os saltos principais apenas três se localizam no Brasil, porém a posição e a configuração semicircular voltada para o lado brasileiro contribuem para uma visão mais geral do conjunto de quedas.

As cataratas encontram-se incrustadas numa região preservada. São dois parques nacionais criados na década de trinta do século passado: o Iguaçu, no lado brasileiro, que possui 185.262,2 hectares e o Iguazú, na Argentina, com 67.620 hectares. São mais de 250 mil hectares no total. Área protegida por lei, que reúne flora e fauna riquíssimas, abrigando espécies ameaçadas de extinção como a onça-pintada e o maracajá. Nos dois parques existem 240 espécies de aves e mais de 50 tipos de mamíferos.

A ampla biodiversidade; o maravilhoso conjunto de quedas e o binômio relevância e preservação fizeram do Parque Nacional do Iguaçu um Patrimônio Natural da Humanidade, assim reconhecido pela UNESCO desde 1986.

Passear pelo parque é se encantar. Cada passo descortina uma vista nova, uma foto a mais. Num dos cantos se vê sempre muitos turistas fazendo poses ao lado da estátua de um ilustre brasileiro: Santos Dumont..., mas, o que teria essa personalidade, o inventor do avião que os brasileiros reconhecem, a ver com o esse ambiente? Sim, para os brasileiros é ele o pai da aviação, mas isso já seria assunto para outro artigo...

Conta a história que Dumont se hospedou na região em 1916 e, na ocasião, visitou as cataratas. Ele teria ficado impressionado com tamanha beleza natural e mais ainda ao saber que elas se situavam em uma propriedade privada. Isso mesmo: as cataratas se situavam em terras então pertencentes ao uruguaio Jesús Val. Daí em diante, Santos Dumont teria usado de sua influência para sensibilizar o governo, a fim de que as terras (e principalmente as águas) fossem desapropriadas pelo estado do Paraná, passando a ser um patrimônio público.

Os esforços que empreendeu foram muitos e não foram inúteis. As terras foram desapropriadas e o resultado desse trabalho se materializou em 1939, ano da criação do Parque Nacional do Iguaçu, possibilitando a abertura das belezas das cataratas e da reserva ambiental para a humanidade.

Anualmente as cataratas são visitadas por milhões de turistas, que vêm de perto e de longe e se colocam diante dessa magnífica formação geológica para apreciar os cerca de 275 mil saltos que aparecem em menor ou maior número, a depender da vazão da água e período do ano, destacando-se dezenove deles, por sua grandeza. Estamos falando numa vazão de 1,5 milhões de litros de água por segundo, em média, podendo chegar a 6,5 milhões na fase de cheias do rio.

Os números são grandiosos, os dados realmente impressionantes, mas o que revela as Cataratas do Iguaçu é estar diante delas e vivenciar o encantamento gerado pelo contato com tamanha força da natureza. A sensação dos respingos de água no rosto (ou um «banho», a depender do vento...), a visão de paisagens deslumbrantes, a profusão de arco-íris se formando em várias direções. Andar ao lado de quatis no caminho até lá, ver pássaros exóticos, registrar momentos para a posteridade, emocionar-se e ter muito para contar na volta da viagem...

Os turistas costumam visitar ambos os parques e conhecer os dois lados das cataratas. Ao fazerem isso, devem perceber que os países, separados pelo futebol, unem-se na preservação de um patrimônio que é de todos e cuidam para que tamanha riqueza natural continue sendo apreciada por muitas e muitas gerações de todo o mundo. Causando impacto nos visitantes, deslumbrando crianças e adultos, como o que aconteceu com a então primeira dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt, que ao visitar o Parque Nacional do Iguaçu e se deparar com tamanha beleza natural fez a seguinte exclamação: «Poor Niagara!» (Pobre Niagara!), numa referência às quedas situadas entre seu país e o Canadá... E não é para menos: as Cataratas do Iguaçu são mais altas e possuem duas vezes a extensão das cataratas norte americanas, apesar de serem, ainda, menos visitadas. Mas o número de turistas na região vem crescendo ano a ano; principalmente após a escolha da atração como uma das sete Novas Maravilhas da Natureza...

O processo de votação foi conduzido pela fundação suíça New7Wonders (Novas Sete Maravilhas) no período de 2007 a 2011 e teve a participação de mais de 400 atrativos naturais de 220 países. As Cataratas do Iguaçu foram eleitas juntamente com outra maravilha brasileira (e de outros países da América do Sul, como o Peru): a Floresta Amazônica. As outras cinco são a Baía de Ha Long, no Vietnã; o Rio Subterrâneo Puerto Princesa, nas Filipinas; a Ilha Jeju, na Coreia do Sul; Komodo, na Indonésia e a Montanha da Mesa, na África do Sul.

Segundo dados da administração do Parque Nacional do Iguaçu, em 2014 foram recebidos 1.550.607 visitantes entre brasileiros e estrangeiros de 172 nacionalidades. Em janeiro deste ano o Parque teve seu recorde de visitantes: em um único dia foram registradas 9.990 pessoas. Mas mesmo atraídos principalmente pelas cataratas, os turistas podem ser surpreendidos por outras interessantes atrações que a cidade de Foz do Iguaçu reserva...

A cidade possui cerca de 300.000 habitantes e está situada em uma região de tríplice fronteira, onde se pode ir facilmente do Brasil para o Paraguai e a Argentina. As cataratas fizeram de Foz do Iguaçu uma cidade eminentemente turística, visitada por pessoas de todas as partes do mundo. Os ônibus turísticos circulam por todos os lados da cidade calma, limpa e organizada, levando os visitantes para aventuras em corredeiras, para apreciar as vistas deslumbrantes das Cataratas ou, por exemplo, para conhecer a gigantesca Hidrelétrica de Itaipu, um dos principais pontos de interesse de Foz, situado a 12 Km do centro da cidade.

A barragem com 8 km de extensão e 196 metros de altura lhe conferiu o título de uma das Sete Maravilhas da Engenharia Moderna, ao lado por exemplo, do Eurotúnel e do Canal do Panamá. Uma verdadeira obra de arte da engenharia, cuja construção teve início na década de setenta do século XX, passando a gerar energia a partir de 1984.

Os números de Itaipu são astronômicos: segundo informações constantes no site do governo federal brasileiro «a capacidade instalada (potência) da Itaipu é de 14 mil megawatts (MW). São 20 unidades geradoras de 700 MW cada. A Itaipu Binacional (Brasil e Paraguai) é líder mundial em produção de energia limpa e renovável, tendo produzido mais de 2,4 bilhões de MWh desde o início de sua operação». Itaipu possui um refúgio biológico, um ecomuseu, um polo astronômico e na visitação o turista pode observar o reservatório do Lago de Itaipu e os condutos forçados, por onde flui a água que gera energia para os dois países. O complexo turístico de Itaipu pode ser explorado de várias formas, a depender do interesse do turista: uma visita panorâmica pela usina; um passeio de catamarã para ver o pôr do Sol no grande lago artificial (ao som de jazz); uma visita técnica mais demorada, conhecendo turbinas, o funcionamento e detalhes da área de produção de energia, etc.

Outra programação especial para se fazer em Foz do Iguaçu é a visita ao Parque das Aves. Um refúgio para aves tropicais onde se pode ver bem de perto araras azuis, vermelhas, amarelas; tucanos, flamingos e tantas outras belas espécies. Parte dos espécimes chega ao refúgio após ser apreendida pela Polícia Federal nas fronteiras, em tentativas de tráfico de animais por criminosos ambientais. O Parque das Aves possui uma estrutura adequada para os animais, com viveiros altos e vegetação, criando um habitat próximo ao natural. Os visitantes passeiam por dentro dos viveiros enquanto as aves voam por sobre suas cabeças... A sensação é de muita proximidade com a natureza.

No Marco das Três Fronteiras, que fica a dez quilômetros do centro de Foz do Iguaçu, no ponto em que convergem os rios Paraná e Iguaçu, pode-se avistar ao mesmo tempo o Paraguai, do outro lado do Rio Paraná e a Argentina, na outra margem do Rio Iguaçu. A fronteira geográfica dos três países é mais uma atração de Foz, principalmente após a construção, pela iniciativa privada, de uma vila cenográfica que reproduz a arquitetura das missões jesuíticas. No local, encontra-se um obelisco com as cores nacionais (verde e amarela), um restaurante, um parque infantil, uma loja e o Memorial Cabeza de Vaca (em homenagem ao descobridor das cataratas), onde um vídeo histórico sobre o descobrimento é apresentado em sessões sucessivas, em várias línguas.

Existem também pontos turísticos relacionados à questão mística e religiosa. Foz do Iguaçu possui um templo budista muito visitado, localizado em uma região alta da cidade, com vista para a Ciudad del Este, no Paraguai. Lá, é possível caminhar por um pátio com 120 estátuas de Buda (cada uma delas com seu significado próprio), sendo a maior com sete metros de altura. Os visitantes podem tirar fotos, meditar, entrar no templo, conhecer um pouco da cultura budista e, caso desejem, acender velas, incensos e fazer seus pedidos. A visita pode proporcionar um momento de calma e relaxamento na agitação da viagem.

Também há na cidade uma mesquita, a Omar Ibn Al-Khatab, templo frequentado pela comunidade muçulmana local, que é formada em sua maior parte por comerciantes que atuam no lado paraguaio da fronteira e começaram a se instalar em Foz por volta de 1950.

O turista pode fazer compras no Paraguai durante o dia e jantar um típico bife de chorizo na cidade de Porto Iguazu, na Argentina, à noite. Comprar os tradicionais alfajores e doce de leite argentinos, ir a cassinos fora do Brasil (uma vez que a atividade é proibida no país), visitar um parque temático sobre dinossauros ou mesmo um museu de cera. Não faltam atrações para vários dias de estada e Foz se preparou para o turismo com uma rede hoteleira diversificada, que cresce a cada dia para atender a todos os gostos e bolsos. Gastronomia variada, espetáculos de danças típicas latinas desde o samba brasileiro ao tango argentino e centros de convenções que podem abrigar eventos simultâneos, com 40.000 participantes no total.

Dá para perceber que dias divertidos, cheios e diferentes podem ser esperados pelo turista, mas as Cataratas e sua beleza, por si só, já valem a viagem... uma oportunidade de vivenciar um encontro com um ambiente natural, exuberante e preservado; ver as quedas tal e qual foram vistas há 425 anos por seu descobridor europeu; ter contato com uma natureza que molha, encanta e impacta por sua grandeza.

Estar diante das Cataratas, observá-las e senti-las é desfrutar de uma energia que nos conecta com nosso planeta e nos faz lembrar que nem tudo está perdido.... Quando o homem preserva, a natureza agradece e retribui.