Há 5 anos de se tornar um cinquentão, como diríamos, o Parque Olímpico de Munique na Alemanha – Olympiapark München - está em plena forma e tem ares mais que joviais. Concebido na década de 70 para revitalizar um vazio deixado pelo abandono de uma área destinada a aviação, o Parque Olímpico foi construído tendo como tema “os jogos olímpicos verdes”, ou seja, queria-se unir o que havia de melhor na tecnologia integrada a um otimismo futurista de preservação do meio ambiente. O resultado é um panorama muito agradável de se ver e que ainda possui um apelo moderno de linhas arrojadas.

Apesar de não ter podido visitar todas as instalações, já que minha visita foi curta, não foi preciso muito tempo para ver que o local ainda pulsa mesmo embaixo de neve e de um frio de -5º. Dá gosto de ver o parque totalmente incorporado à paisagem da cidade, sendo utilizado pelos locais e visitado por turistas como eu naquele final de tarde escuro. O Parque é dividido em 4 áreas:

  1. Área Olímpica, composta do Estádio Olímpico (usado na Copa do Mundo de 2006), Hall Olímpico, Torre Olímpica, Complexo de Piscinas Olímpicas e o Salão Olímpico de Eventos.

  2. Vila Olímpica, dividida naquele momento em setor masculino – hoje um bairro – e setor feminino – hoje uma moradia estudantil.

  3. Centro de Mídia Olímpico – hoje o Shopping Center Olímpico.

  4. Parque Olímpico, que possui a Montanha Olímpica e a Lagoa Olímpica, lugares lindos para se fazer um treino de corrida.

Acessível? Certamente. Possui linha de metrô a poucos metros e a entrada aos espaços é gratuita, exceto se for para eventos de entretenimento, como shows e jogos. Mas fora isso, qualquer pessoa pode circular livremente mesmo se tiver alguma restrição de mobilidade, pois as alamedas são de leve inclinação e sem buracos! Para os turistas, é possível fazer uma visita guiada que infelizmente eu perdi por conta do horário de fechamento no inverno, mas só o passeio pelas áreas comuns já vale a pena, não só para contemplar esse presente arquitetônico de Munique, capital da Baviera, mas também para ver o quanto estamos longe do desenvolvimento. Mas eu já volto a esse ponto. Antes, vejamos mais um exemplo do que é o verdadeiro legado olímpico.

Os Jogos Olímpicos de verão de 1972 não foram os únicos da Alemanha. Em 1936, os jogos aconteceram em Berlim e o maior símbolo do evento é o famoso Estádio Olímpico, ainda majestoso e monumental. O Parque Olímpico de Berlim também é utilizado pela população (diferentes esportes são praticados no complexo) e o estádio é oficialmente a casa do Hertha BSC. Muitas dessas instalações não foram pensadas exclusivamente para os jogos de 1936, mas foram reaproveitadas dos projetos para os jogos de 1916 e que, por conta do da I Guerra Mundial, precisaram ser cancelados. Ou seja, mais um exemplo de que planejamento, execução e sobretudo manutenção são os segredos para uma gestão saudável das áreas esportivas de qualquer edição dos jogos olímpicos.

Apesar de todo o peso histórico do Nazismo e a necessidade de se apagar monumentos associados à propaganda do regime, o Estádio Olímpico, bem como o Parque Olímpico, nunca foram abandonados. Pelo contrário, o estádio foi e continua sendo palco de momentos importantes de campeonatos de futebol e de atletismo. Reformado várias vezes, ele mantém seu charmoso ar vintage por fora e possui modernas instalações em seus setores destinados aos VIPs e também aos atletas. Sem falar no gramado impecável, o qual, mesmo no inverno com muita neve, recebe tratamento exclusivo. Vale a pena fazer o passeio guiado dentro do estádio ao invés de pegar o áudio-guia que te conduz apenas ao redor dele. Nesse tour de 1 hora, visita-se as áreas VIPs, de imprensa e dos atletas além de poder ver o aparador original da tocha olímpica de 1936, o qual marca o final do primeiro revezamento da tocha olímpica desde Olímpia, na Grécia. Infelizmente não pude ver o parque inteiro, mas, assim como em Munique, o restante do parque é um espaço vivo e muito bem cuidado.

Tendo visitado e vivido a atmosfera contagiante dos jogos olímpicos e paralímpicos Rio 2016, não tem como não comparar as nossas instalações com as alemãs. Ainda mais diante de um noticiário macabro de imagens de abandono do nosso Parque Olímpico da Barra – sem falar das outras instalações - que jamais deveriam existir depois de míseros 5 meses. É incrível o descaso e a falta de manutenção para com um patrimônio que deveria ser mais um espaço de lazer de uma população já tão privada de tudo. Sinceramente, não é só síndrome de vira-lata. É incompetência, jogo de empurra-empurra e cara de pau mesmo.