Uma cadeira de escritório flutua no que já foi uma piscina olímpica. O mato toma conta da arena de vôlei de praia onde o Brasil conquistou a medalha de ouro entre os homens. O estádio que recebeu as competições de beisebol e softbol está igualmente às moscas. Esse é o triste cenário que vive a cidade de Atenas, sede das Olimpíadas de 2004. Apesar do estardalhaço acerca da volta dos Jogos ao local onde foram inventados, 2792 anos atrás, o evento pouco deixou de legado positivo à população grega. Será que o mesmo acontecerá com o Rio de Janeiro?

O sonho do Comitê Olímpico da Grécia era receber o megaevento de 1996, em comemoração aos cem anos da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, ocorrido justamente na capital grega. No entanto, o lobby norte-americano pela candidatura de Atlanta falou mais alto e adiou os planos por oito anos. A preparação para a volta às origens da competição começou meio lenta: em 2000, o Comitê Olímpico Internacional (COI) alertou que Atenas poderia perder o direito de sediar o evento caso o ritmo das obras não acelerasse. Era um presságio.

Durante os 16 dias de competição, tudo correu às mil maravilhas - na medida do possível. Bastou a pira olímpica se apagar para os problemas aparecerem. A organização preferiu construir grandes estádios, ginásios e arenas, mesmo de modalidades sem tradição alguma no país, em vez de optar por alternativas mais modestas ou até temporárias. A conta chegou: os Jogos de 2004 custaram 8,5 bilhões de euros (36,7 bilhões de reais), sem correção monetária. Especialistas afirmam que este pode ter sido o início o que viria a ser a maior crise econômica já enfrentada pela Grécia, que perdura até hoje.

É difícil acreditar que algo semelhante vá acontecer com o Rio de Janeiro. Embora o COI também tenha precisado puxar a orelha dos cariocas, os principais locais de competição já estão prontos, a tempo até de serem postos a prova nos eventos-teste. O maior perigo de atraso atende pelo nome de linha 4 do metrô, que deve ligar o Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, a Ipanema, na Zona Sul. A expectativa é de que os trens comecem a rodar plenamente no dia 1° de julho.

Com o fantasma dos elefantes brancos na Grécia - e mais recentemente em cidades como Cuiabá e Manaus, na Copa do Mundo de futebol de 2014 -, os organizadores do Rio-2016, ao menos em tese, estão tomando os cuidados necessários para aproveitar todas as estruturas erguidas. O percurso de canoagem slalom, por exemplo, já foi aberto à população antes mesmo das Olimpíadas. Situado na região de Deodoro, na Zona Norte do Rio, longe das praias, o local recebeu milhares de banhistas durante os finais de semana que foram aberto ao público no mês de dezembro, prática que, segundo a prefeitura, será recorrente após o fim dos Jogos.

Outros locais também já têm um final feliz programado. A Arena do Futuro, por exemplo, receberá as competições de handebol (nas Olimpíadas) e goalbol (nas Paralimpíadas). Depois, será desmontada e suas estruturas darão origem a quatro escolas públicas, que serão construídas na própria cidade do Rio de Janeiro, com capacidade para 500 alunos cada. O governo municipal promete que, após o fim do megaevento, os ginásios que receberam as competições de taekwondô, esgrima e judô, apenas para citar algumas modalidades, se tornarão centros de excelência para o treino de atletas profissionais ou para a formação de novos talentos. Sorte nossa que o beisebol e o softbol não fazem mais parte do programa olímpico.