A Galeria Leme apresenta, Autorretrato em branco sobre preto, a primeira exposição individual de Jaime Lauriano na galeria.

Em Autorretrato em Branco sobre Preto, não há uma história narrada de forma oral, ou uma proposta de reescrita da História tal qual nos é contada. A narração está em emprestar o corpo e a representação de uma história a partir do sujeito, para reelaboração de uma História atual a partir do artista. Afinal, o autorretrato é uma testemunha do sujeito em determinado tempo e lugar, nele vemos além de sua fisionomia, mas nas escolhas formais e compositivas, como o autor cria-se para o outro.

Em seus trabalhos, o artista cria uma narrativa-analítica de como a linguagem operou um importante papel no processo de colonização nas Américas: primeiro, misturavam-se homens e mulheres provenientes de diferentes nações africanas, para que não se comunicassem; depois, as línguas neo-latinas foram impostas como línguas e culturas mandatórias nessa situação de diáspora. Esta operação conduz o expectador a se questionar sobre como o colonialismo vai além da subordinação material e física do sujeito, fornecendo ao colonizado os meios de comunicação e expressão. A linguagem, neste caso, não apenas transmite uma informação, mas detém de um contingente quase espiritual sobre a cultura pela qual é usada – intervir na linguagem é intervir na subjetividade de um povo.

Esta exposição é também uma pergunta acerca das formas de elaboração de traumas históricos. E aqui Jaime Lauriano se refere a toda e qualquer forma de dominação derivada do Brasil colônia e que persistem ainda hoje, apenas performada por agentes atualizados. De que forma o aparelho cultural elabora esse trauma? Qual o papel dos Museus e instituições culturais dentro desse sistema? Glorificar as diversas culturas que aqui desembarcaram como signos exóticos de um passado distante ou se propor a investigar, desenterrar documentos, arquivos, pesquisas, diálogos que elaborem uma história da dominação para além de algemas expostas em uma vitrine, como atestados de algo que passou e não existe mais? Como o discurso meritocrático se retroalimenta do discurso da mestiçagem e vice-versa? Como a história é performada e atualizada em mitos e rituais? Como se cruzam as lógicas da propriedade privada e da dessubjetivação dos corpos?

Jaime Lauriano (São Paulo, Brasil, 1985)

Graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Jaime Lauriano discute as estruturas envolvidas na constituição do espaço público e o processo histórico de formação do estado brasileiro. Utiliza-se de estratégias presentes em produções audiovisuais contemporâneas - como a propaganda -, de materiais de arquivo e pesquisa de campo para alavancar suas discussões.

Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as individuais: Impedimento, Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil, 2014; Em Exposição – Sesc Consolação, São Paulo, Brasil, 2013; Olhares, Escutas E Outras Histórias, Sesc, Ribeirão Preto, Brasil, 2010; e as coletivas: Exposição PIESP 2013-14 / Programa Independente da Escola São Paulo, Casa do Povo, São Paulo, Brasil, 2014; Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil, 2014; Taipa-Tapume, Galeria Leme, São Paulo, Brasil, 2014; Espaços Independentes: A Alma É O Segredo Do Negócio, Funarte, São Paulo, Brasil, 2013.