A ascensão de processos rápidos foi importante para o momento atual do mundo, os avanços e tecnologias modernas fizeram nosso modelo atual de negócios ser possível. Mas tanta rapidez e avanço em diversos meios pode causar o descarte inconsciente pela constante procura pelo mais novo e mais atual, seja um fone de ouvido, ou até mesmo uma roupa, que vai ser nosso foco hoje. O crescimento de lojas de departamento, que inundam suas prateleiras com o mais novo o mais rápido possível é um dos seguimentos que alimenta essa relação de rapidez versus descarte.

Para chegarmos ao ponto principal das tendências serem cada vez mais descartáveis é também necessário entender como o negócio da moda costumava funcionar. Primeiro as peças desfiladas em passarelas de alta moda e costura eram desejadas e esperadas, após sua disponibilidade em lojas, as pessoas referências na moda, revistas, celebridades passavam a usar e abusar das tendências criando assim o desejo por parte do público geral e após isso as peças chegavam a esse público com a ajuda de lojas mais acessíveis, saindo do nicho exclusivo do luxo, e nesse momento novas tendências já estavam sendo criadas no topo dessa cadeia que são as grandes casas de alta costura.

Esse ciclo podia durar anos, pelo menos entre um e dois anos, algo que dependia do desejo e aceitação das pessoas em relação a cada uma das novas tendências, uma tendência bem aceita e recebida poderia perdurar por muito tempo voltando as passarelas de formas repaginadas.

Acontece que o contato com a moda passou a ser muito mais rápido com o surgimento de redes sociais e o compartilhamento cada vez mais rápido das tendências que saiam das passarelas, eventos que por muito tempo foram exclusivos e cada vez mais passaram a ser transmitidos ao vivo e atualmente diversos vídeos virais são consumidos, estes resumem rapidamente tudo que acontece nas semanas de moda e o que esperar como mais desejado na moda nos próximos tempos. Mas a informação muitas vezes é bem diminuída a um brevíssimo resumo de poucos minutos, diminuindo também o impacto de todo o trabalho complexo de um desfile de uma marca.

Nessa receita ainda temos as influenciadoras, que embora tragam muita informação a pessoas em seu dia-a-dia, na moda muitos criadores de conteúdo digital usam de conteúdos diários trazendo tendências diferentes. Pode ser por exemplo um unboxing de 20 peças mostrando diferentes peças, algumas que podem acabar sendo retornadas para as marcas em questão já que são recebidos pagos, funcionando como uma grande propaganda de uma coleção de moda. O conteúdo das influencers também traz um questionamento a mais, já que em 15 segundos é o suficiente para mostrar muitas peças, valorizando o consumo rápido ou o usar para apenas “viralizar”, algo que contribui para uma indústria cada vez mais poluente com a geração de descarte.

Com isso, cada vez mais houve surgimento de tendências super rápidas que começam nas plataformas, viraliza e então as marcas e grandes Maisons de luxo adicionam a sua passarela trazendo um novo padrão ao ciclo da Moda revertendo a cadeia. Mas as marcas grandes não apenas se inspiram em muitas peças virais, como as lojas de departamento que em questão de semanas já tem toda uma nova gama de peças disponíveis referente aos virais das redes sociais. Podemos citar também a atual crise de identidade da gama de luxo, que vem trocando seus diretores criativos com mais frequência tentando encaixar o perfil “viral” em seu foco.

Outras grandes marcas surpreendem seus clientes negativamente, com peças cada vez mais mal acabadas e padrões mais industriais, diminuindo sua confecção artesanal que sempre foi um dos aspectos mais importantes em certas grifes.

Isso tudo cria um distanciamento das marcas com o seu público alvo e clientes já fidelizados, imagine se sua marca amada começa a se distanciar da estética e estilo que era o clássico e referência principal? Com certeza não seria um cenário satisfatório. Ou imagine que sua marca queridinha vai aumentar os preços, mas a qualidade das peças caíra de forma aparente. Esse cenário também é muito insatisfatório? Além de todos esses aspectos supracitados, ainda há a criação de tendências sem muito sentido, como a Tomato Girl que foi um viral no verão de 2024 e chegou rápido nas lojas, mas desapareceu num flash tão rápido por que já estavam chegando estéticas novas como a polêmica Mob Wife.

Podemos concluir com todas as palavras que a moda está entrando num looping que pode ser perigoso e insustentável, minha dica é prestar atenção a origem e preocupação das marcas com sustentabilidade. Há formas simples de se perceber prestando atenção a preocupação com reciclagem e up-cycling de uma determinada marca, além da comunicação da marca ser muito importante para ser o mais educativa possível. Na ausência de poder escolher marcas a dedo, escolha o material das peças que compra, opte por materiais mais naturais como algodão que normalmente terá uma durabilidade superior face a qualidade do tecido.