De acordo com informações da ONU, o planeta terra deve bater a marca de quase 10 bilhões de pessoas até o ano de 2050. Então, como vamos alimentar essa crescente na população mundial? Para que isso seja minimamente viável de acontecer, a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) acredita ser necessário que a produção de alimentos aumente entre 50% a 70%. Mas como podemos obter resultados positivos perante um planeta onde todos os dias observamos, e muitas vezes colaboramos, com a destruição do ecossistema e escassez de comida?

Os novos hábitos alimentares são um forte aliado para nossa comida do futuro. Hoje em dia é muito comum ver pessoas mais novas que preferem uma alimentação saudável, para consumir menos e evitar um maior desperdício. Também muitos jovens optam por consumir somente produtos orgânicos, o que aproxima o produtor do consumidor, e assim nos torna mais colaborativos com o meio ambiente. Outros também escolhem o estilo de vida veggie, que é um hábito que minimiza e muito o impacto no nosso planeta. E, é nessa linha de raciocínio que o foodtech e alguns produtores orgânicos estão de olho para produzir e comercializar alimentos que serão servidos a nossa mesa no futuro.

Alguns alimentos que estão sendo estudados como comida do futuro já servem de alimentos para diversas pessoas no mundo, e esse são:

  • Insetos: A entomofagia é o uso de insetos na alimentação humana. Essa teve seu início aproximadamente na época dos hominídeos e atualmente faz parte da alimentação de pelo menos 2 milhões de pessoas, presente em diversos locais como algumas tribos na África, países da Ásia, Austrália e América latina. Desde 2003, a FAO realiza pesquisas que apontam que esses animais são ótimas fontes de fibras, vitaminas, proteínas e aminoácidos e também possuem alto teor de gorduras boas. Além disso, estudos mostram que comer insetos traz diversos benefícios para o equilíbrio da flora intestinal, redução da pressão arterial e contribuem com o fornecimento de antioxidantes importantes no combate a radicais livres. Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná também apresentam estudos com uso de insetos em receitas como crepioca, caponata, pães, bolos, geleias, farinhas e outros. Segundo a responsável pela pesquisa, Bióloga e Professora Fabíola Dorneles, os insetos são uma ótima alternativa de proteína animal, quase 70% em comparação com a do boi.

  • Fungos comestíveis: Existem diversos fungos utilizados em processos biotecnológicos para a fabricação de alimentos como queijos, pães e cervejas. No entanto, os fungos comestíveis que serão nossa fonte de alimento do futuro aqui citados são os cogumelos. A estimativa é que existam cerca de 2 mil espécies de cogumelos comestíveis no mundo e em média 25 delas são cultivadas para venda. Dentro dessas espécies existe a trufa, que é um dos tipos mais valiosos de cogumelos do mundo, chegando a custar em alguns casos 10 mil reais o quilo.

Os cogumelos são uma ótima alternativa ambiental, pois substratos como cascas, palhas, esterco, madeiras podem ser utilizados durante seu cultivo. E, com o conhecimento adequado a cada 100kg de substrato utilizado podemos ter um resultado de 30kg de cogumelos. Além disso, o cultivo desses fungos requer pouco espaço para criação, assim sendo viável produzir em pequenas propriedades. E, ainda falando das vantagens desses fungos, temos uma fonte rica em proteínas, antioxidantes, vitaminas do complexo B, potássio e baixo teor de gordura.

  • Algas: As algas são um alimento muito consumido na culinária asiática e isso não é novidade para ninguém, mas o valor dela vai muito além de serem conhecidas apenas como parte da alimentação. As algas são responsáveis pela produção de 55% de todo oxigênio do planeta. Alguns estudos apontam que elas são capazes de produzir 167 vezes mais biomassa do que o milho e com a mesma “capacidade de terra”, também chegam a diminuir em 10 até 20 em produção por hectare de soja. Além disso, o cultivo de algumas espécies podem ocorrer em água salobra ou salgada, o que também deixa a água doce livre para outras necessidades humanas.Dentro de todos os seus benefícios para o meio ambiente, encontramos também melhorias para a nossa saúde, pois são ricas em vitaminas, minerais, ômega 3 e macronutrientes essenciais para a saúde humana, além de anti hemorrágica e uma melhora no sistema gastrointestinal.

  • Fazendas verticais: As hortas verticais foram criadas pensando nos grandes centros urbanos e essa prática está sendo considerada o futuro da agricultura das próximas gerações. O cultivo dessas hortas utiliza automação com menor impacto ambiental. Além de que a produção desses alimentos é feita protegida da luz solar, chuva, vento e longe do solo. Essas produções também utilizam 90% menos água do que os métodos tradicionais de agricultura. Apenas 0,5 litros de água é capaz para uma produção de 1,7 toneladas de alimentos, além de ser reciclada e reutilizada. As fazendas verticais são livres de pesticidas, não apresentam produtos danificados o que reduz o desperdício e longe das adversidades climáticas conta com uma produção durante 365 dias do ano. E, com a utilização de tecnologia limpa reduz os danos ao meio ambiente e diminui o custo operacional para os agricultores.

Outros alimentos, em fase de teste ou pouco consumidos, estão sendo também escolhidos como aposta para alimentos do futuro como:

  • Carne de laboratório: A carne artificial é produzida em laboratório por meio de técnicas de bioengenharia, ou seja, não envolvem abate. As células tronco são coletadas de um animal, de forma indolor, e em um biorreator elas são alimentadas com nutrientes, crescem e se multiplicam como células musculares, ou seja, formando pedaço de carne. Essas células podem ser utilizadas cerca de 30 a 50 vezes antes de ser necessária uma nova biópsia. Além de preservar o bem estar animal, a carne de laboratório utiliza cerca 100 vezes menos terra e 5,5% menos água que na criação de animais. A carne artificial pode ser um ótimo aliado na produção apenas do que se é consumido, assim evitando maiores desperdícios de alimentos. Acredita se também que com essas adaptações elas diminuem as gorduras saturadas, o que aumenta os níveis de gorduras boas, diminui o colesterol, o que pode em alguns casos reduzir o risco de ataque cardíaco ou derrame. Além disso, os riscos de E.coli podem ser totalmente eliminados do laboratório.

  • Proteína do ar: Essa proteína é produzida a partir de bactérias do solo, alimentadas por hidrogênio. A finlandesa solar foods, pretende ser uma das primeiras startups a tornar a proteína derivado do ar um artigo comercial. Também pelo menos outras três empresas europeias estão também no processo de transformar hidrogênio verde em alimento. Segundo os estudos apresentados por essas empresas, uma das vantagens do cultivo dessas proteínas é não depender de condições climáticas e solos férteis, diferente da agricultura.

Pensar no futuro dos alimentos é de extrema importância, pois os sistemas alimentares dependem cada vez mais das condições climáticas e são esses mesmos sistemas que causam danos ao nosso planeta, o que torna um ciclo vicioso de produção, cultivo e consumo sem consciência. Por isso é necessário falar sobre o futuro dos alimentos, com o que ainda somos capazes de produzir. O esgotamento dos nossos recursos é cada vez mais presente e essa perda vai ser de grande impacto em nossa alimentação.

Se o ser humano não começar a se preocupar agora com o meio ambiente e suas fontes de energia, é melhor começar a treinar o paladar para essas novas tecnologias de alimentação entrarem no nosso menu de amanhã.