Reunindo interpretações de clássicos do cancioneiro nacional, além de poemas de nomes consagrados de nossa literatura, o álbum Brasileirinho foi gravado em estúdio no ano de 2003 e na sua versão ao vivo em 2004.

Produzido por Maria Bethânia, com direção de Jaime Alem, Brasileirinho inicia mesclando uma canção dos baianos Gerônimo e Ildásio Tavares, Salve as Folhas, com Ferreira Gullar recitando o poema O Descobrimento, do paulista Mário de Andrade e musical dos mineiros do grupo Uakti.

Bethânia reúne nesse trabalho elementos característicos da cultura popular brasileira, sejam eles cânticos religiosos de matriz africana e católica, cantigas populares e canções que representam um pouco de cada região do país.

Como de costume nos trabalhos da artista, a presença de textos literários ajuda a construir uma narrativa poética juntamente com as músicas, que são costuradas com as citações e, dessa forma, possibilitam que o público tenha acesso a uma experiência que reúne tanto a literatura, uma arte considerada mais elitizada, e a música, que já está mais inserida no meio popular.

O álbum pode ser dividido entre 3 categorias e, até mesmo, momentos históricos, sendo eles: a chegada dos portugueses e a escravidão dos africanos; a forte religiosidade presente na sociedade brasileira, por meio dos santos e orixás; e a construção da ideia de pátria.

Os textos literários escolhidos são de autoria de 3 escritores/poetas brasileiros, representantes das três gerações do modernismo, sendo eles: Mário de Andrade (1ª geração), Guimarães Rosa (2ª geração) e Vinícius de Moraes (3ª geração).

O movimento literário do Modernismo não foi uma escolha aleatória para compor esse trabalho, já que uma de suas principais características é, justamente, uma nova perspetiva da cultura brasileira. Esse movimento se preocupa em representar o Brasil popular, dando visibilidade para os sertões, as etnias indígenas e africanas, que foram/são essenciais na constituição do país, mas que, frequentemente, seguem marginalizadas e estereotipadas.

A religiosidade é um tema sempre presente na composição da obra de Maria Bethânia e nesse álbum não seria diferente. O catolicismo e o candomblé são muito importantes na vida da cantora que, assim como muitos brasileiros, praticam sua fé através do sincretismo religioso. Dessa forma, pontos de umbanda, como Ponto de Janaína, e canções sobre santos católicos, como Padroeiro do Brasil.

Além de sua versão de estúdio, o álbum ganhou uma gravação ao vivo, característica já conhecida da cantora que gosta de ter suas apresentações ao vivo também gravadas. Em 2004, Bethânia realiza o show no Canecão, que leva o mesmo nome do álbum, com direção de Bia Lessa, cenários de Gringo Cardia e iluminação de Maneco Quinderé. E com as participações de Miucha, Nana Caymmi, Uakti, Tira Poeira, Denise Stoklos e, por meio de gravação, Ferreira Gullar.

Na apresentação ao vivo, foram inseridas outras faixas, como Gente Humilde, Correnteza, Luar do Sertão entre outras. Apesar de não fazerem parte do álbum de estúdio, as canções também seguem a mesma temática das demais, representando características culturais das regiões do país.

O que podemos perceber com o Brasileirinho é como a cultura do Brasil é composta por tradições e costumes tão diversos, como um país com dimensões continentais pode ser tão plural. Existem diferentes formas de ser brasileiro e exercer essa brasilidade. E essa diversidade se dá, principalmente, pelos diferentes povos responsáveis por construir a nação. As raízes afro, europeia e indígena estão presentes e, cada uma delas, possui sua relevância.

Desde o início de sua carreira até os dias atuais, Maria Bethânia, além de ser uma cantora e intérprete muito importante para o Brasil, é uma das principais artistas responsáveis por promover a cultura brasileira em sua essência.