Ao escolher moda como campo profissional e acadêmico escolhi muito mais do que a indumentária e o design. Ao decidir por moda a escolha foi a multiplicidade. Moda é história, filosofia, linguagem, arquitetura, design, funcionalidade, comunicação, expressão, desejo e não para aí.

Para a própria moda, sua definição é nebulosa por se tratar de um setor dividido e emendado em inúmeras possibilidades. A moda como conhecemos hoje é pautada no mundo moderno, período a partir do qual o shape do capitalismo e a noção de indivíduo surgiu com clareza na sociedade e o mimetismo social veio com tudo. De maneira simplista, as escalas sociais da época tinham níveis muito bem estabelecidos, principalmente quando se fala do acesso a todo tipo de coisa e a nobreza era o exemplo maior do que a classe burguesa sonhava em possuir: chapéus, adornos, vestidos com camadas e mais camadas do melhor tecido e até a cor azul (tingimento caríssimo e muito difícil de obter, considerado literalmente uma cor nobre).

A partir daí é onde surge o movimento da imitação (um grande fundamento do ritmo da moda): a nobreza ditava um padrão de aparência entre si, as classes inferiores se interessavam e, dentro do seu alcance, começavam a usar o mesmo, a nobreza cujo maior objetivo era não se misturar, criava uma nova moda e o ciclo se repetia todo outra vez. Existem boatos de que uma certa rainha após longos meses de viagem de navio precisou raspar a cabeça devido a enorme quantidade de piolhos. Adivinha só? As mulheres burguesas também rasparam as suas. Até aqui, falei sobre história, sociedade, estética e até psicologia. Tudo o que a moda é capaz de ser, inclusive, para a própria moda e é aí que eu quero chegar.

Em 1947 a Europa começou a se reestruturar depois dos desafios vividos na guerra. Com grande parte da população tomando a frente nas linhas de batalha, as mulheres se inseriram cada vez mais no mercado de trabalho e os ideais estéticos do período deixaram de ser prioridade. A moda veio, então, como recurso de escapismo e foi transformada por um estudioso da arquitetura e urbanismo, que era amante do paisagismo e das artes plásticas e filho de um comerciante de fertilizantes. Christian Dior comprovou a teoria de que a moda pode ser tudo, ao construir uma das peças mais valiosas e icônicas da história utilizando de tudo o que ele já quis ser e aprendeu.

No dia 12 de fevereiro, Christian Dior decidiu que as mulheres mereciam reviver o que havia sido deixado de lado durante a Guerra, retomando sensualidade e presença de uma forma nunca vista. E foi então, que com cinturas marcadas e silhuetas cheias de estrutura, Dior marcou uma nova era para a moda feminina. A revolução ficou conhecida como o The New Look, e uma das suas maiores marcas foi a Bar Jacket, feita de incríveis 4 metros de seda Shantung e acolchoado na linha do quadril.

Acontece que a expressão revolução abraça aspectos muito maiores do que se pensa. O modelo desenvolvido por Dior se transformou em uma referência de design, fluindo da arquitetura, ao mobiliário e de copos a frascos de perfume. O produto mais conhecido referente ao último exemplo foi o perfume norte americano Youth Dew, que sugeriu a silhueta ampulheta marcada pela revolução do New Look.

Não se pode deixar de mencionar o aspecto de onírico de um estilo de vida ideal que o *New Look buscou retomar e o fato de que, historicamente, o padrão estabelecido pela moda ideal se tratava de cinturas extremamente finas em modelagens questionavelmente desconfortáveis e, a padronagem do *New Look, apesar de inovadora, retomou o *mood dos espartilhos e *corsets que se fez presentes há alguns séculos.

Ainda assim, não se pode negar que a marca de Dior foi uma assinatura forte do poder que a moda tem, quando no pós-guerra uma das maiores riquezas era retomar e transformar a vaidade, até então perdida no caos.

A modelagem do New Look perdurou por 10 anos, e, segundo Dario Caldas, estudioso de tendências e comportamento, é considerada como a primeira moda de vestuário a atingir populações dos 5 continentes.

A moda é tudo. E me arrisco em dizer que é por si só uma revolução.