Com curadoria de Paulo Sergio Duarte a exposição Tazibao e outras obras, de Antonio Dias, é uma homenagem ao artista falecido no último 1º de agosto. A mostra traz uma síntese da produção de Dias a partir das obras Black Mirror, 1968, e Arid, 1969, até trabalhos de 2013, incluindo sete filmes em Super 8 realizados de 1971 a 1974. Entre as obras reunidas, a Galeria Nara Roesler apresenta de maneira inédita no Brasil Ta Tze Bao, de 1972. De fora da seleção, ficam apenas trabalhos de 1964 a 1967, exibidos na recente exposição Entre construção e apropriação – Antonio Dias, Geraldo de Barros e Rubens Gerchman nos anos 60, com curadoria de João Bandeira, no SESC Pinheiros, em São Paulo, que esteve em cartaz até o dia 03 de junho.

Destaque da mostra, Ta Tze Bao remete aos jornais murais comuns nas paredes das cidades chinesas, presentes já desde início do século XX, e que, a partir de 1966, se manifestaram como dissidência à esquerda do Partido Comunista da China. Como afirma Paulo Sergio, Tazibao (transcrição normatizada e atualizada para a língua inglesa, utilizada pelo crítico) era a eloquente gráfica da Revolução Cultural. “Tazibao era o jornal por excelência da imprensa para a esquerda radical; se era livre ou não, pouco importava, o importante era depor os “revisionistas”, aqueles que divergiam do pensamento do camarada Mao. Para Antonio Dias era o Watergate”.

Na série Tazibao, Dias intervém sobre as primeiras páginas de dois jornais – o New York Times e o Corriere della Sera – tal como apareciam as matérias sobre o Watergate durante uma semana de novembro de 1972. Na versão a ser apresentada na galeria, o artista cobre todas as páginas em vermelho, destacando as áreas das notícias ao recortá-las em sua exata equivalência sobre tela pintada de vermelho e pendurar os recortes embaixo de cada página do New York Times e do Corriere della Sera. Segundo o curador, o balanço das áreas vermelhas superiores e dos pequenos recortes inferiores não é gratuito, vigora sobre a relação política da importância de uma notícia e a primeira página do jornal. “Isso, na época das mídias sociais parece muito velho, mas ainda não é; todo dia estamos marcados pelos nossos Tazibao eletrônicos que nos imprimem com suas urgências. O Tazibao de Antonio Dias, em papel, é atualíssimo”, completa.