Os quinze minutos de fama de Warhol tornaram-se quinze segundos. O tempo passa mais depressa mas é cada vez mais importante a autoria, o mediatismo, o plateau e as luzes da ribalta. Que o universo da moda sempre brilhou através de holofotes muito potentes já sabemos. Basta analisar o percurso cronológico e histórico desta manifestação. Porém, a mão que assina as peças foi tendo importância variada ao longo dos ciclos. Hoje, a cara no palco é mais relevante do que as peças que se apresentam.

Se recuarmos aos “renascimentos” perceberemos a importância da autoria, da individualização e personalização do artista. Os autores assinam as suas obras e o cunho pessoal passa a ser de extrema relevância para os mecenas, para os colecionadores e aquiridores das obras. Um da Vinci, um Michelangelo ou um Bosch são nomes sonantes aos quais se associam grandes e obras e, na época, se demarcavam de artistas anónimos. A mão que assina tem importância. O artista por detrás da obra é crucial porque tem personalidade, tem temperamento, tem uma perspetiva de beleza e perfeição únicas.

Durante vários séculos os artistas assumiram um papel de destaque pela autoria das suas obras. Ainda que não avocassem estatuto de celebridades, o nome do artista contribuía para a notoriedade da obra. Porém, a fraqueza e o desleixo ditariam a derrota de qualquer um que pisasse com um pé em falso. A grandeza do artista é equiparável à grandeza da sua obra. E hoje? As grandes casas de moda nasceram e mantiveram o seu allure pela sua herança, pelo mistério e complexidade da passagem do tempo, da eternização da grandeza. Veja-se a Chanel, a Givenchy ou a Gucci. Em tempos dourados a caneta de Coco, de Hubert e de Guccio assinaram grandes peças e sustentaram um nome que é hoje símbolo de requinte e de estilo.

E hoje? Hoje não existem os criadores que sustêm essas marcas e nos oferecem obras de arte sobre as quais refletimos durante tempos demorados. Hoje assomam celebridades que nos oferecem peças que amamos ou odiamos mas que não mudam a nossa rotina nem o batimento cardíaco. Não temos tempo para pôr na boca, mastigar e saborear. Tudo é deglutido de maneira rápida e voraz. Não importa tanto de que forma se está a pensar, desenhar e produzir as peças das marcas de moda. Deixamos de valorizar e expectar as grandes peças, os vestidos que se tornarão clássicos ou os fatos que ditarão uma corrente para observar as marcas de moda como um mercado de celebridades.

Talvez não se sabe quais são as peças statement da última coleção Saint Laurent mas sabemos que Hedi Slimane esteve, até abril do presente ano, por detrás da máquina. Jean Paul Gaultier, o enfant terrible. Importa-nos mais o próximo escândalo do criador do que os inacreditáveis vestidos de noiva que cose com as próprias mãos! Já não importa a mão que assina. Porque hoje a mão que assina não é a mão que pensa, cria e produz. Hoje a mão que assina é a mão que aparece. A moda é um mercado de celebridades, não é mais um mundo de artistas. Perdemos o interesse pela fruição, pela estética, pelo gosto pela perfeição no detalhe para amar os holofotes. Os quinze segundos de fama que concedemos quando existem transações entre as marcas. A moda é um mercado de celebridades que amam o plateau. Nós somos espetadores que perdemos o interesse nas obras e veneramos os artistas. Mas só durante quinze segundos. Enquanto temos paciência para tanto. Porque hoje não interessa a mão que assina, interessa a mão que acena em cima do palco.